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Bancos. Moeda e o Mercado de Crédito. Crises Financeiras e Globalização

Moeda, Empréstimos e Consumo

Moeda

É o meio de troca usado para comprar bens e serviços.

Permite a transferência de poder de compra entre agentes.

Uma moeda só cumpre a sua função se for aceite por todos os agentes envolvidos numa interação.

Se quisermos consumir um bem no presente em vez de no futuro, mas não temos poder de compra suficiente, podemos pedir um empréstimo. O custo de oportunidade de ter mais bens agora é ter menos no futuro.

A dinâmica de pedir emprestado e emprestar permite-nos reorganizar a nossa capacidade de comprar bens e serviços ao longo do tempo.

Taxa de juro (rr): Preço de adiantar algum poder de compra no tempo.

  • Quanto mais alto for rr, mais consumo futuro temos de abdicar.
  • No contexto de um empréstimo, corresponde ao preço do empréstimo.
  • No contexto de um depósito, corresponde à remuneração pelo dinheiro depositado.
Juro=Prec¸o do dinheiro \text{Juro} = \text{Preço do dinheiro}

A propensão para um consumidor contrair um empréstimo depende dos seguintes fatores:

  • Suavização do consumo: um consumidor pode escolher distribuir o seu consumo para evitar grandes variações de consumo.
  • Impaciência:
    • Miopia (Visão curta): tendência para valorizar a satisfação presente em vez da satisfação mais tardia;
    • Prudência: tendência para consumir no imediato devido à incerteza do futuro.
  • Decisões ótimas: decisões que podem levar alguém a contrair/ceder um empréstimo.
    • Taxa de Desconto/Discount Rate (ρ\rho): é uma medida de impaciência.
    • Um indivíduo deve pedir emprestado o montante onde ρ=r\rho = r e deve pedir mais quantia se ρ>r\rho > r.
    • É preferível emprestar dinheiro com juros em vez de simplesmente guardá-lo.

Bancos

Os bancos são empresas que fazem lucro ao emprestar e pedir emprestado.

Curva de Phillips

O seu negócio é receber empréstimos das famílias (taxa passiva), isto é, depósitos, e depois dão empréstimos com uma taxa de juro superior (taxa ativa), fazendo assim lucro.

rdepoˊsitos<rempreˊstimos r_\text{depósitos} < r_\text{empréstimos}

No fundo, um depósito consiste num empréstimo ao banco.

O balanço de um banco consiste em:

  • Ativos: empréstimos feitos pelo banco.
  • Passivos: empréstimos recebidos pelo banco.
  • Valor Líquido/Capital Próprio =AtivosPassivos= \text{Ativos} - \text{Passivos}
    • É o que o banco deve aos acionistas.
    • Se for negativo, diz-se que o banco é insolvente.

Banco Central

O Banco Central é o "banco dos bancos comerciais", ou seja, os bancos comerciais emprestam, pedem emprestado e têm contas no Banco Central (embora os bancos comerciais também façam trocas entre si). Geralmente, o Banco Central pertence ao Governo. Pode também criar moeda ao creditar nas contas dos bancos comerciais.

  • Base Money (base monetária): Notas e Moedas. Dinheiro como moeda legal (legal tender), isto é, tem de ser aceite, por lei, como meio de pagamento.

    • O Banco Central é o único que pode criar legal tender.
  • Bank Money: dinheiro criado pelos bancos que não é legal tender.

    • É a moeda usada na concessão de empréstimos por parte dos bancos comerciais.

Definimos assim o agregado monetário lato (broad money).

Broad Money=Base Money+Bank Money\text{Broad Money} = \text{Base Money} + \text{Bank Money}

Taxa de Juro de Política Monetária: taxa de juro definida pelo Banco Central.

  • Afeta todas as despesas num economia. Juros mais altos desincentivam e implicam uma diminuição das despesas no presente.
  • Alavancagem: dependência de uma empresa face à dívida que contraiu.
    Alavancagem=Total de AtivosValor Lıˊquido \text{Alavancagem} = \frac{\text{Total de Ativos}}{\text{Valor Líquido}}
  • A taxa referência no mercado monetário da Zona Euro é a Euribor, que consiste na média das taxas de juro dos empréstimos interbancários nesses países.

Risco de Default, Risco de Liquidez e Crises Bancárias

Liquidez

É a facilidade de converter em meio de pagamento sem haver perda de valor.

Os bancos prestam dois tipos de serviços, que carregam consigo riscos:

Transformação de Maturidades:

  • Os depósitos podem ser levantados a qualquer momento
  • Os empréstimos só precisam de ser reembolsados após um certo período

Isto revela-se um problema porque o banco pode não ter (e usualmente não tem) dinheiro suficiente para liquidar todos os depósitos dos seus clientes.

Transformação de Liquidez:

  • Os depósitos são líquidos
  • Os empréstimos são ilíquidos (para quem empresta)

Isto tem dois riscos: Risco de Default (os empréstimos não são pagos) e Risco de Liquidez (o banco não tem liquidez para satisfazer os levantamentos dos clientes).

Se todos os clientes quiserem, ao mesmo tempo, levantar o seu dinheiro depositado no banco, o banco pode não ter liquidez suficiente e ir à falência. A esta situação chama-se corrida aos bancos. Esta situação pode também resultar de maus investimentos, ou seja, empréstimos não pagos. O Governo pode intervir nesta situação, visto que a falência de um banco pode derrubar todo o sistema financeiro.

Problema Principal-Agente e Racionamento de Crédito

Problema Principal-Agente

Quando decorre um empréstimo, pode ocorrer um conflito de interesses entre o principal (quem empresta) e o agente (quem recebe o empréstimo), relativo a uma ação ou atributo oculto do agente, que não pode ser imposta nem/ou garantida através de um contrato vinculativo.

Se o montante emprestado não for pago, pode levar a racionamento de crédito. Isto ocorre quando aqueles com menos rendimentos, ao pedir um empréstimo, são recusados ou recebem-no em condições comparativamente desfavoráveis, aumentando a desigualdade.

Exemplo

Ao financiar um projeto, o principal corre o risco de não receber o dinheiro de volta, caso o projeto falhe.
Não é possível assinar um contrato que garanta o sucesso do projeto.

Para resolver este conflito de interesses, existem múltiplas opções:

  • Capital Próprio: o principal pode exigir que o agente coloque parte da sua riqueza no projeto, de forma a incentivar o seu sucesso.
  • Colateral: o agente deve reservar bens que serão transferidos para o principal se o empréstimo não for pago, dando assim uma garantia ao principal.

Globalização

A globalização é o processo no qual as economias se tornam mais integradas através da circulação livre de bens, investimento, capital e mão-de-obra entre fronteiras.

A globalização tem impacto nos seguintes níveis:

  • Mercados internacionais de bens e serviços: o comércio total (exportações e importações) contribui mais significativamente para o PIB.
  • Mercados de capitais internacionais: em geral, as diferenças entre países tendem a diminuir ao longo do tempo.
    • A Lei do Preço Único tem como objetivo reduzir os price gaps entre países, dizendo que o preço para um mesmo bem se deve tentar igualar entre países (excluindo custos de transporte).
      • Uma das consequências a curto prazo da globalização é a convergência dos preços para a média mundial.
    • A Balança de Pagamentos regista as fontes e a utilização e moeda estrangeira:
      • Investimento de portfólios: compra de ações/títulos estrangeiros;
      • Investimento direto estrangeiro: propriedade de ativos físicos estrangeiros.
  • Mercados de trabalho internacionais: não tem sido tão afetado, tendo em conta que os salários ainda diferem muito entre países.

Vantagens e Desvantagens

A globalização traz benefícios ou malefícios consoante a escassez relativa de fatores:

  • Um fator abundante dentro de um país é barato, mas se abrir ao resto do mundo, o seu preço aumenta, convergindo para a média mundial;
  • Por outro lado, um fator escasso é caro, mas vai convergir para um preço mais barato.

Assim, a existência de um mercado livre global tende para a especialização na produção.

Especialização

Imaginemos um país abundante em capital e outro país abundante em mão-de-obra.

Com a abertura dos mercados, cada país especializa-se nos seus fatores abundantes.

No país com abundância de capital, os donos desse capital ganham mais com o mercado global do que os trabalhadores, aumentando a desigualdade.

No país com abundância de mão-de-obra, são os trabalhadores que ganham mais com a globalização, diminuindo a desigualdade.

Um país tem vantagem comparativa na produção de um bem se a sua produção possuir menor custo de oportunidade.

A especialização de acordo com a vantagem comparativa tem efeitos semelhantes aos do progresso tecnológico, tais como o aumento da produtividade, a diminuição de emprego a curto prazo e o crescimento das indústrias de exportação a longo prazo.

Vantagem comparativa e Vantagem absoluta

Imaginemos dois estudantes, o Afonso e o Miguel, que realizam um trabalho de grupo:

  • O Afonso demora 3 horas a fazer a parte 1 do trabalho e 4 horas a fazer a parte 2;
  • O Miguel demora 5 horas a fazer a parte 1 do trabalho e 6 horas a fazer a parte 2;

O Afonso tem vantagem absoluta nas duas partes do trabalho (menos horas de trabalho), mas tem vantagem comparativa na parte 1 porque:

  • 3/4 = 0.75 < 5/6 = 0.833, ou seja, para fazer a parte 1 o Afonso sacrifica 75% do tempo de realização da parte 2 (custo de oportunidade de 1 em termos de 2), enquanto que o Miguel sacrifica 83.3%.
  • 4/3 = 1.33 > 6/5 = 1.2, ou seja, o Afonso tem o custo oportunidade maior de fazer a parte 2 do trabalho comparativamente ao Miguel.

Logo o Afonso deve fazer a parte 1 e o Miguel a parte 2.

Intervenção dos Governos

  • Imposição de tarifas: discriminação de produtos estrangeiros.
  • Políticas de imigração: regulamentação do movimento de pessoas entre países.
  • Controlo de capitais: limitação da transferência de ativos financeiros entre países.
  • Políticas monetárias: alteração da taxa de câmbio e, consequentemente, do preço relativo dos bens importados e exportados.

Crescimento Económico

A globalização pode promover o crescimento económico através de:

  • Concorrência com empresas estrangeiras;
  • Economias de escala, provindas de procura externa.

No entanto, pode também impedi-lo, através de:

  • Especialização desvantajosa, em setores de baixa inovação;
  • Learning by doing em indústrias crescentes, o que pode necessitar de proteção temporária.